Quase Nada Sobre Quase Tudo

sábado, julho 08, 2006

A essa altura todo mundo já sabe que ¨A Sangue Frio¨ do Truman Capote é um dos livros que fundaram o jornalismo literário, gênero que combina a objetividade factual e os recursos da narrativa de ficção. A obra conta a história da brutal chacina da família Clutter e dos autores do crime, executados em 1965. A apresentação da edição que minha pequena Lilica me deu é de Ivan Lessa (um lixo...) e o posfácio é de Matinas Suzuki Jr. (ok).
Relato minucioso, o livro parte do assassinato de 4 pessoas de uma mesma família, os Clutter - o pai, Herb, a mãe, Bonnie, e os dois filhos, Nancy e Kenyon, na cidade de Holcomb, no Kansas, em 1959. O crime foi noticiado em poucas linhas no The New York Times e rendeu ao escritor a idéia de acompanhar a transformação de uma pequena comunidade depois de um crime bárbaro. Planejado como um artigo para a revista The New Yorker, o grande periódico do jornalismo literário de então, o trabalho terminou por sufocar o escritor. Capote levou 5 anos para concluir "A sangue frio", publicado em 4 grandes capítulos na revista, em 1965, e mais tarde em livro, no ano seguinte.
Capote explora em minúcias o crime e seus desdobramentos, como o drama obsessivo do policial Al Dewey para encontrar os matadores de seus bons vizinhos ou o medo que se instala na pequena cidade finalmente apresentada à violência típica de cidade grande. O livro passeia pela fazenda dos Clutter, esmiúça o cotidiano de cada integrante da família, fazendo o leitor conhecê-los intimamente. Ao mesmo tempo, acompanha a trajetória dos assassinos, Perry Smith e Richard Hickock.
Capote não se pôs como personagem e os detalhes de como a família foi morta só aparecem quase ao fim do livro, em um depoimento surpreendente de Perry Smith, o criminoso que Capote enxergava como um espelho distorcido de si próprio, inteligente e autodidata. Uma confissão que Capote , um sedutor nato, levou anos para arrancar.
O crime hoje em dia talvez tivesse entrado em uma longa lista de massacres (como todo mundo sabe, o mundo está cada vez mais cruel)e pra mim a maior virtude do livro é o apurado perfil humano que Capote desenhou nas duas extremidades da tragédia - as vítimas e os assassinos. Impressiona como o autor, tal qual um psicólogo, reconstrói os pormenores da vida dos Clutter e desvenda o que se passava na mente dos criminosos, numa proximidade perigosa que, acredita-se, cruzou as fronteiras do jornalismo.
Não está no livro mas Perry escreveu sua carta derradeira uma hora antes de tombar do cadafalso: ''Sinto que Truman não tenha conseguido vir ao presídio para trocarmos umas palavrinhas antes da festa da gravata. Seja qual for o motivo, não o condeno e o compreendo. (...) Sou profundamente grato à amizade nesses anos todos, e por tudo mais. Seu amigo de sempre, Perry'' .

1 Comments:

  • At sábado, julho 08, 2006, Anonymous Anônimo said…

    (repito: quero ter seus genes para leitura.... tenho certeza que passou tudo pra vc e pro ramon, que saco rsrs)

    e não fala mal da edição do meu presente... rs... só tinha essa!!!

    matinas suzuki jr. merece o troféu joinha... rsrs... ele aparecia em propaganda da folha, não? lembro até hj da voz desse infeliz... rs

     

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