Quase Nada Sobre Quase Tudo

sexta-feira, abril 22, 2005

O estranho caso do cachorro morto




"Passavam sete minutos da meia-noite. O cachorro estava deitado na grama, no meio do jardim da frente da senhora Shears. Os olhos dele estavam fechados. Parecia que ele estava correndo de lado, do jeito que os cachorros correm, quando acham que estão atrás de um gato, num sonho. Mas o cachorro não estava correndo nem estava dormindo. O cachorro estava morto. Havia um forcado de jardinagem atravessando o cachorro. As pontas do forcado deviam ter varado o corpo do cachorro e se cravado na terra, porque o forcado não tinha caído. Concluí que o cachorro devia ter sido morto com o forcado porque não consegui ver outros ferimentos no cachorro e não acho que alguém ia enfiar um forcado de jardim num cachorro se ele já estivesse morrido de alguma outra causa, como câncer, por exempIo, ou um acidente de carro.”

Assim Christopher Boone, 15 anos, começa a contar sua história.
Ele adora listas, padrões e verdades absolutas. A matemática é o seu Valium ou seu Prozac. Odeia amarelo e marrom e, acima de tudo, odeia ser tocado por alguém. Christopher nunca foi muito além de seu próprio mundo, não consegue mentir nem entende metáforas ou piadas. É também incapaz de interpretar a mais simples expressão facial de qualquer pessoa. Quando Christopher encontra o cachorro da vizinha morto no jardim, é acusado do assassinato e preso. Depois de uma noite na cadeia, decide descobrir quem matou Wellington, o cachorro, e escreve um livro, relatando suas investigações.


Em nenhum trecho o autor usa as palavras autista e síndrome de Asperger para explicar o comportamento de Christopher e sua percepção literal das coisas e dos seres humanos. Na Inglaterra houve gente só se deu conta da deficiência do personagem quando, à revelia do autor, os responsáveis pela edição a destacaram na contracapa, para efeito de marketing.

Li inteiro ontem, dá pra sentir o quanto é difícil viver numa família com uma doença desse tipo, tanto para os pais quanto para o próprio menino. Em muitos momentos dá pena do menino pela incompreensão do mundo ¨normalmente¨ e em outros dá vontade de presenteá-lo com uns tabefes...

Acabo de ler que Haddon recebeu da Warner e do ator Brad Pitt US$ 500 mil para viabilizar a transposição das andanças de Christopher Boone ao cinema. Steve KIoves, da série Harry Potter, já está escrevendo a adaptação.

 


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