Quase Nada Sobre Quase Tudo

terça-feira, março 01, 2005

Cadeia no Japão


Li no site da Revista Época desta semana:

¨Por dar uma resposta atravessada a um carcereiro, o brasileiro R.S., de 32 anos, foi castigado com uma das penas mais aplicadas no presídio de Nagoya, no Japão: ele passou dois dias com uma camisa-de-força, com as mãos atadas. Uma delas ficava presa na barriga e a outra nas costas, passando por trás da cabeça. Nessa posição, que provoca dores musculares intensas, mas não deixa marcas, ele teve de comer, beber, ir ao banheiro e dormir. Em outras ocasiões, foi obrigado a passar o dia de pernas cruzadas, apoiado nos joelhos, de frente para a parede. ''Muitas vezes achei que iria desmaiar de tanta dor. Depois de ser castigado tantas vezes, aprendi a controlar a revolta'', conta.

O Japão tem um dos sistemas carcerários mais severos do mundo. R.S. diz ter recebido uma cartilha com as normas de conduta nos presídios, as mesmas desde 1908. De acordo com a cartilha, o preso deve pedir permissão para tudo - falar, sentar, deitar. Para isso, deve ficar em posição de sentido, com o braço direito e os dedos esticados, tirar o boné com a mão esquerda e dizer hanashimassu - na tradução, ''queria falar''. Quem descumpre as regras é punido com temporadas na solitária.

Esse drama é compartilhado por centenas de brasileiros. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, há registro de 190 brasileiros presos no Japão. E, de acordo com padres católicos que prestam auxílio nas penitenciárias, o número de brasileiros presos em território japonês pode chegar a 500, já que nem todas as detenções são comunicadas aos consulados.

A socióloga Sandra Almeida tem uma tese de mestrado e prepara um documentário sobre o drama dos brasileiros nos presídios japoneses. Ela visitou duas penitenciárias no Japão e recolheu relatos de dezenas de ex-detentos e familiares. Para o filme, estão sendo entrevistados dez brasileiros. O título será ''Inferno nas Fábricas'', uma alusão às linhas de montagem, de tecelagens a móveis, instaladas dentro dos centros de detenção.

De acordo com os depoimentos, as rígidas normas valem para todos, mas os estrangeiros sofrem mais pela discriminação. Durante as visitas, sempre através de vidros e acompanhadas por guardas, o detento deve falar apenas japonês. As cartas devem ser encaminhadas com uma tradução no idioma.

Roberto Basaglia, de 45 anos, relatou as agruras sofridas nos presídios de Yokohama e Shizuoka no livro Tengoku no Tanzai, que significa Estada no Paraíso, mesmo título de um filme estrelado por Omar Sharif. Pelo assalto a uma agência de empregos ele recebeu a condenação de quatro anos de detenção. De acordo com seu relato, passou boa parte desse tempo em solitárias completamente acolchoadas, sem quinas e sem móveis, por ter sido diagnosticado como ''suicida em potencial''. ''As celas não têm janelas'', conta. ''Uma luz fica permanentemente acesa e, por isso, é impossível saber se é dia ou noite. O sistema de ventilação é acionado pelos guardas, mas muitas vezes ele fica desligado, tornando o ar quase irrespirável. Do mesmo buraco no chão onde fazemos as necessidades sai a água que usamos para beber e nos lavar.''
Basaglia descende de italianos e não tem nenhum parentesco com japoneses. Aprendeu a língua por conta própria. Sem emprego no Brasil, resolveu tentar a sorte no Japão. Trabalhando de 12 a 14 horas por dia em diversos empregos, de vendedor a operário, chegou a ter uma vida confortável. Casou-se com uma japonesa e teve dois filhos. Depois de se separar, entrou em depressão. Foi quando cometeu o crime e foi detido. ''Começou então meu tormento'', conta. ''Não queria conversar com ninguém, só escrever meu diário. Por essa reclusão, acharam que eu poderia me matar a qualquer momento.''


O brasileiro conta que era encorajado pelos seguranças a ficar o dia inteiro sentado. Um mês depois, percebeu a razão: ele começou a sentir as pernas atrofiadas e mal tinha forças para andar. ''Passei a aproveitar a meia hora diária de exercícios para caminhar'', diz. Basaglia enviou uma carta em que relatava os maus-tratos sofridos no presídio à Embaixada do Brasil em Tóquio. A carta foi reencaminhada a uma congregação de salesianos que ajudava estrangeiros no Japão. Basaglia passou então a receber visitas do padre Evaristo Higa. ''A partir do contato com uma pessoa que falava português e me encorajava a rezar foi que consegui apaziguar minha alma e esquecer o ódio que sentia'', revela. Depois de cumprir a pena, retornou ao Brasil. Hoje ele trabalha como porteiro no hotel Emiliano.

As normas:

- O preso não tem amigos;
- Não se pode andar, somente marchar;
- Deve-se pedir permissão para tudo: sentar, levantar, deitar,

comer, ir ao banheiro, falar ;
- Deve-se olhar sempre para o chão;
- O trabalho nas fábricas dentro das prisões é obrigatório;

- No início e no fim do dia de trabalho, o preso é minuciosamente
revistado.Um tubo é introduzido em seu ânus;
- É proibido dividir a comida com outro preso;
- As visitas, através de vidros, duram 20 minutos;
- A direção do presídio pode vetar os visitantes;
- Em todos os casos, o único idioma permitido é o japonês.


Detento no Brasil vai pra cadeia comer danoninho?
Duvida? http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT915928-1664-1,00.html

5 Comments:

  • At quarta-feira, abril 07, 2010, Anonymous Anônimo said…

    Acho que no Brasil os presidios deveriam haver a mesma regra...que sabe muitos pensavam antes de cometer um crime!

     
  • At quinta-feira, junho 03, 2010, Blogger Unknown said…

    No ano de 2003 fui condenado a 3anos no japao por tentado separar uma briga do meu irmao,ele furou um rapaz com 5 facadas e por eu nao ter aceito bater no rapaz com um soco ingles eu tambem levei uma facada no braço.fui pra delegacia e la o "escrivão" me fez assinar um documento,que seria o meu depoimento.mas no dia do julgamento acadei descobrindo que por nao saber falar e escrever japones na epoca o meu depoimento tava totalmente destorcido,no papel que assinei eu assumia a minha culpa,culpa que nao tinha,e por isso fui condenado a 3 anos naquele inferno.
    La a pressao pisicologica é muita,os presos sao tratados como animais domesticaveis,como lixo(como os guardas mesmos falam).os estrangeiros sao os que mas sofrem,por la dentro os mafiosos da yakuza tem um certo privilegio(nao tao grande).por qualquer coisa ter levam pro castigo e falam que por ser guarda podem fazer o que quiser que ninguem vai acreditar em um preso,preso é um lixo.fui pro castigo mas de 20x nesse periodo,nao aceitava passar por tudo aquilo.Existe hora pra tudo.desde fazer as necessidades fisiologicas,ate tomar banho,comer,dormi,acordar,falar,ler...querem mandar ate no seu pensamento.hoje tenho serios problemas pisicologicos,nao sou mas a mesma pessoa,nao tenho paciencia com nada,choro as vezes quando lembro.isso que eu passei la é uma coisa que nunca vai sair da minha memoria.eu nao sei o que fazer pra voltar a ser como eu era antes... nem um animal merecer passar pelo que os presos passam ali.

     
  • At terça-feira, julho 20, 2010, Anonymous Anônimo said…

    Sou brasileira,mãe de uma filha de 4 anos.Meu esposo foi preso no ano de 2008/10/28,e até então,ele foi julgado,condenado e até hoje não sei realmente doque ele foi acusado e qual o grau de sua culpa no caso.Mas sei notoriamente,que no dia da audiencia(em que ele falou),deixou bem claro ao Juiz que ele foi torturado psicologicamente(relatou ao Sr Juiz, que na época em que estava em Shirabe,os investigadores colhiam seu depoimento por varias horas seguidas por dia,deixando o sem comida,bebida e até por varias noites dando seu depoimento,sem contar que eles colocavam fotos minhas e de minha filha na mesa, e dizia á ele batendo com a caneta nas fotos e na cabeça dele,dizendo o seguinte..."você está vendo sua esposa e filha???..Então, você nunca mais vai vê-las"),ele disse tambem que o depoimento dele ja estava todo no papel(mesmo ele sem falar nada), e falavam pra ele assinarlogo pra ele poder ir dormir e comer!!!

     
  • At quarta-feira, dezembro 08, 2010, Anonymous Anônimo said…

    Meu filhos esta preso no Japao, queria compartilhar com pessoas que foram presas e familiares. Para que assim possa de alguma forma confortar meu filho enquanto ele estiver la. Obrigada
    Contato verakmodas@hotmail.com

     
  • At quarta-feira, março 02, 2011, Anonymous Anônimo said…

    E gente e muito difícil eu praticamente cresci no Japão
    Conheço muito a cultura o jeito deles ser aa atitudes correta q eles escolhem!
    Meu irmão esta preso vai fazer 3anos usuário de drogas e um pequeno furto a uma empreiterA
    Pegou condicional mas o visto dele havia vencido então foi enviado a imigração lá ficou por mas uma meses os guarda da imigrcao sao muitos arrogantes me assustei como ele poderiam agir daquela forma
    Porém dps de ter consiguido 1ano de visto foi pego novamente nas drogas ele residi no presidio de kyouto a visita dele somente 3vez ao mes e somente 15minutos atras do vidro parece uma cena de filme fui ao julgamento dele ele estava algemado como se fosse um criminoso ou um assasino Nw consegui me controlar tive q me retirar da sala meu pai foi testemunha uma cena muito tristí
    Nw sei oque se passa lá dentro mas nas carta ele me diz q tem muito medo dos castigo que pode receber
    Nas visita ele Nw pode falar nada doque realmente acontece lá dentro fiquei chocada ao ler este documentário

     

Postar um comentário

<< Home

 


eXTReMe Tracker