¨A professora de piano Erika Kohut entra como um furacão na casa que partilha com sua mãe. A mãe gosta de chamar a Erika o seu pequeno tufão,pois a menina consegue às vezes ser tão rápida como um furão.Fugir à mãe é a motivação. Erika vai a caminho do fim dos trinta. No que respeita à idade, a mãe bem poderia ser sua avó. Foi só ao cabo de muitos e duros anos de matrimónio que, outrora, Erika se apresentou neste mundo. O pai logo à filha passou o testemunho e saiu de cena. Erika entrou em cena, o pai saiu. A necessidade tornou Erika na mulher rápida que é hoje. Qual enxame de folhas outonais, entra de rompante pela casa dentro e esforça-se por atingir o quarto sem ser vista. Mas já se lhe interpõe a mamã, enorme, imobilizando Erika. Com interrogatório,encostando-a à parede, inquisidor e pelotão de fuzilamento numa só pessoa, reconhecida no Estado e na família como mãe, por unanimidade. A mãe investiga por que razão Erika só agora chegou a casa, tão tarde? O último aluno há já três horas que se foi embora, cumulado pelo escárnio de Erika. Deves pensar que não venho a saber onde estiveste, Erika. Uma criança não espera que a mãe a convide a prestar contas, em que aliás ninguém acredita, porque criança gosta de mentir. A mãe ainda fica à espera, mas só o tempo de contar até três¨.
(¨A Pianista¨ de Elfriede Jelinek)
¨LUST¨ de Elfriede Jelinek foi o primeiro livro dela publicado aqui na Argentina (traduzido como ¨Deseo¨) e por isso mesmo foi o 1º livro que li dessa autora. (Postei aqui no blog que tinha alguma coisa muita errada na cabeça dela e confesso que não gostei da obra).
Tendo lido na internet que ¨A Pianista¨ era a obra-prima da Nobel Elfriede Jelinek, resolvi dar uma nova chance à autora e comprei a versão pocket do livro.
Não, eu não me arrependi.
O livro é violento (ela realmente odeia os homens) e eu li em pequenas doses de umas 30 páginas diárias.
A vida de Jelinek inspirou ¨A pianista¨ onde ela narra sua relação de amor-ódio com sua tirana mãe (com quem ela viveu até que a velha fez 100 anos de idade!). É a história da frustração de Erika Kohut (em quem sua mãe inculcou a não aceitar fracassos mesmo que se para isso tivesse que sacrificar os afetos e demais prazeres da vida), que está perto dos 40 anos e tem que se conformar em ser uma simples professora de piano até o dia em que se apaixona por um aluno muito mais jovem , Walter Klemmer, e sua vida vira de ponta cabeça.
"Con el correr de los años, sus deseos inocentes se transforman en afán devastador, en deseos de destrucción. Quiere a cualquier precio lo que los otros tienen. Lo que no puede obtener, intenta destruirlo”.
Sim, o livro está escrito no estilo escatológico e agressivo jelinekense (no caso desta obra a pianista recorre a automutilação como forma de chamar a atenção - algo que os psiquiatras chamam de ¨Síndrome de Borderline¨ que curiosamente é detectada maioritariamente em mulheres onde entre as causas frequentes está o abuso sexual durante a infância) e o final é terrível...
¨A pianista¨ foi levada às telas de cinema nas mãos de Michael Haneke (Isabelle Huppert faz o papel de Erika) e li na internet que PJ Harvey o leu na época do cd "Stories From the City, Stories From the Sea".
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