Quase Nada Sobre Quase Tudo

quinta-feira, novembro 23, 2006

Li "Asfixia" (na tradução em espanhol de "Choke", publicado no Brasil como "No Sufoco") ou tentativa número 2 de gostar de Chuck Palahniuk.
A tentativa número 1 foi ¨Clube da Luta¨ livro muito interessante mas cujo final incrivelmente idiota estraga quase todo o resto.
A historinha de ¨Asfixia¨: Victor Mancini inventou um método pra ganhar uns tostões a mais fingindo que se asfixia com a comida num restaurante com o objetivo de que a pessoa que o salvou se sinta responsável por ele pelo resto da vida, contando que passa por dificuldades financeiras, o que, invariavelmente, leva seus salvadores a lhe enviarem dinheiro. Fora isso ele também trabalha de camponês miserável num parque temático dos EUA colonial no século XVIII junto com o melhor amigo Denny. Além do mais frequenta um grupo de terapia para viciados em sexo apenas para encontrar mulheres, tal como ele "viciadas" e, tal como ele, mais desejosas de ceder ao vício do que o tratar. E visita a mãe moribunda cujo espírito anárquica fez da infância de Victor uma verdadeira loucura.
Enfim, Palahniuk escreve sobre o que não é normal e, através do exagero, torna esta não-normalidade em algo bizarro. ¨Asfixia¨ me fez lembrar de ¨Todas as famílias são psicóticas¨ do Douglas Coupland (na minha opinião um autor bem melhor).
Enfim... Palahniuk deveria escrever sua autobiografia. Jornalista de profissão, Palahniuk já foi artista de rap, lutador amador e até mecânico de automóveis. Teve o pai assassinado com a namorada pelo ex-marido dela. O acusado está no corredor da morte. Quando era adolescente, seu avô cometeu suicídio após matar a mulher. O autor adora conversar sobre sua quase obsessão em fazer humor com episódios trágicos, sobre as referências anticonsumo presentes em suas histórias, sobre sua escrita enxuta e direta, e suas narrativas repletas de escatologia. Em 2003, durante sua turnê para promover o romance "Diary", o autor leu o conto para diversas platéias nos Estados Unidos. Mais de 75 pessoas desmaiaram ao ouvir a leitura (desconfio de farsa protagonizada por fãs do autor).
Vou continuar tentando...

terça-feira, novembro 21, 2006

"Sou um homossexual. Sou um drogado. Sou um gênio"
Li ¨Conversaciones Íntimas con Truman Capote¨ de Lawrence Grobel.
O livro é uma longa entrevista com Capote onde o leitor fica bestificado pela inteligência e cara de pau de Truman.
Capote solta o verbo sobre personagens que conheceu como Norman Mailer, Marilyn Monroe, Jack Kennedy, Jacqueline Onassis, Marlon Brando, Tom Wolfe, Tennessee Williams, Lee Oswald, Mick Jagger, Montgomery Clift, Malcolm Lowry, James Dean e Elizabeth Taylor. Mas também fala de sua própria vida: a infância, o sucesso do seu primeiro livro, seus problemas toxicológicos, bichice, sobre a arte de escrever e a história de ¨A sangue frio¨.
Estas conversas com Grobel ocorreram no espaço de 2 anos, entre junho de 1982 e agosto de 1984, pouco antes da morte de Capote.
Hilariante, um prato cheio para fãs!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Das coisas que vêem com o casamento...

Graças à família do meu marido, serei tia avó, aos 32 anos, no ano que vem. 2007 já começou mal...
Assisti o documentário argentino ¨Fuerza Aerea Sociedad Anonima¨ do diretor Enrique Piñeyro.
Cheio de momentos patéticos o filme mostra como o avião da Lufthansa escapou de ser atingido por um foguete - que foi disparado num exercício de tiro - ou os diálogos entre pilotos e operadores de vôo, entre outras coisas inacreditáveis que parecem fazer parte da comédia "O Piloto Sumiu"...
Entre 1997 e 1999 morreram 142 pessoas em acidentes aéreos na Argentina. A Força Aérea também fecha os olhos para o tráfico de armas e de drogas que passa pelos aeroportos.
Piñeyro foi piloto da aviação civil e conhece muito bem o assunto.
Enfim, corrupção, ocultamento de informação e negligências variadas, são reveladas através de cameras ocultas que denunciam uma realidade que não deveria continuar impune. Graças ao filme algumas cabeças rolaram mas não foram suficientes.
De arrepiar os pentelhos!
Assisti ¨World Trade Center¨ do Oliver Stone. A história do 11 de setembro todo mundo já conhece e o filme trata da sobrevivência e operação de salvamento de 2 membros da Polícia Portuária – John McLoughlin e Will Jimeno – encurralados nos destroços do World Trade Center.

Filme as vezes tão meloso que quase me fez prometer que nunca mais pago um ingresso pra ver alguma coisa relacionada a esse diretor!
Li num só dia (é impossível largar o livro!) ¨Sayonara, Gangsters¨ do japonês Genichiro Takahashi.
O livro conta a vida insana de um professor de poesia, alterada da noite para o dia e para sempre por um grupo terrorista denominado OS GANGSTERS.
¨Sayonara, Gangsters¨ é uma obra literária pós-moderna única, mas que me fez lembrar muito de ¨PanAmérica¨ do nosso José Agrippino de Paula.

Um livro que faz nossos neurônios darem cambalhotas!
Trecho:
¨Eu e esse cara estávamos de pé no meio do corredor da escola.

De pé diante de mim, o professor de história perguntou:

— Diga-me, garoto, você realmente tem certeza de que o descobridor da América em 1492 foi Babe Ruth?

— Não — eu respondi. — Desculpe meu erro, mestre. Foi Marlon Brando.

— Permaneça de pé por mais uma hora — o professor ordenou.
O professor de história parou diante desse cara.

— Você realmente acha que o livro que a rainha Elizabeth I pediu a Shakespeare para escrever em 1598 era Emmanuelle? — ele indagou.

— Hum — esse cara gemeu e, de braços cruzados por algum tempo, permaneceu pensativo. Então esse cara inesperadamente abriu um pequeno sorriso, indo sussurrar algo ao pé do ouvido do professor.

— Permaneça aí até amanhã de manhã — o professor ordenou.
Esse cara despendeu de pé, no corredor da escola, alguns anos valiosos daquele período difícil da vida.

À semelhança de um judeu que finalmente chega à Terra Prometida, nem um pé-de-cabra o tiraria de sua posição no corredor.

Mesmo no dia de minha formatura, esse cara continuava de pé no corredor, dirigindo-se de modo divertido aos professores e alunos que passavam diante dele: — Vejam, eu sou um corredor.
— Adeus — eu disse ao me despedir dele.

Sofri ao me formar por ter que deixar esse cara para trás, sozinho no corredor.

— Não esquenta com isso — esse cara me disse. — Descobri que sou um corredor. Saiba que ser um corredor é algo muito positivo. Ei, escuta… tem uma coisa que eu, na qualidade de corredor, gostaria de lhe dizer. Você leva jeito para poeta. Estou certo disso num sentido bem “corredorístico”, você sabe.

Eu concentrava toda a força de meu corpo nos olhos, a contemplar esse cara.

Naquele momento já era praticamente impossível distingui-lo do corredor e, por isso, bastaria relaxar um pouco os sentidos para não poder mais perceber a diferença entre os dois.

— Você acha que eu tenho tino para poesia?

Esse cara emitiu um guincho.

— Existem muitos tipos de corredor! — ele gritou.

Ele parecia já não entender mais o que eu falava.

— A maioria dos corredores é reta, mas ao virarem, sempre o fazem em ângulos retos.

O corredor emitia guinchos quando era pisado.

— Andar pelo corredor de ponta-cabeça: a isso se denomina teto. Por isso, o teto é também um corredor. Se andarmos pelo teto, certamente ele emitirá guinchos.

Eu disse “adeus” ao corredor que não parava de guinchar.

Dessa forma tomei conhecimento de que eu era poeta¨.

sexta-feira, novembro 17, 2006

¨Demorei um bom tempo para deixar Ginger entrar em casa, mas veio uma onda de frio com temperaturas de quinze graus negativos, e quando chegou a menos vinte, tive de deixá-la entrar, atormentado pela idéia de encontrar seu cadáver congelado na varanda. Ruski não botava o focinho para fora. A segunda gravidez aconteceu no inverno seguinte e ela teve os filhotes dentro de casa, em uma cesta que eu preparara para ela. E é claro que ela ficou para amamentar os filhotes. Quando os gatinhos tinham dez semanas, dei dois deles. Ginger ficava procurando por eles. Ia chorando de quarto em quarto e olhava sob a cama, embaixo do sofá. Então resolvi que não podia passar por aquilo de novo. Ginger passava por aquilo há séculos¨.

(William S. Burroughs - ¨O gato por dentro¨ - livro que é uma fofura, recomendo!)
Li ¨Vanessa Bell, Virginia Woolf : historia de una conspiración¨ da biógrafa Jane Dunn.
Virginia Woolf e Vanessa Bell eram irmãs e foram o núcleo do grupo Bloomsbury. O livro explora a relação entre essas mulheres desde o ambiente recluído de suas infâncias, à morte prematura da mãe, da meia irmã e do irmão, seus esforços para viver da maneira que queriam criou uma paixão e uma rivalidade enorme entre elas além de uma influência recíproca em suas obras e vidas.Vanessa escolheu a arte, a plenitude da sexualidade e a maternidade e Virginia, a literatura, a imaginação e os frutos do intelecto.
Utilizando cartas, diários, romances e ensaios, Jane Dunn elaborou um retrato original de ambas artistas.
Gostei do livro mesmo que em momentos seja meio repetitivo.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Dependendo da época eu amo/odeio o Caetano Veloso.
O novo cd, Cê, que mamãe mandou pra mim por recomendação do amigo Tatá, não tem nada daquelas pieguices dos últimos trabalhos dele.
Só não entendi porquê demônios ele teve que cantar com esse sotaque português idiota na canção ¨Porquê?¨...

Caê ainda tem espírito provocador, graças a Deus!


quinta-feira, novembro 09, 2006

Na falta de um filme melhor e com um monte de ingressos grátis na mão fui assistir "United 93" do diretor Paul Greengrass.

O filme conta a história do 11 de setembro de 2001 através da recreação dos acontecimentos que ocorreram durante o vôo 93 da United Airlines, o último avião sequestrado naquela terrível manhã. Todos os atores são ilustres desconhecidos, o que eu achei legal. O filme teve apoio das famílias dos passageiros que estavam a bordo do avião e relata em tempo real - desde a decolagem, passando pelo sequestro, até o momento em que os passajeros se dão conta de que formam parte de um plano de ataque perfeitamente coordenado - a dramática história que ocorreu no céu e em terra enquanto os passageiros, tripulação, controladores aéreos e militares tentavam entender e solucionar uma crise sem precedentes. De cara sabemos o final da história mas isso não tira o interesse do filme, que por sorte não tem clima de novela mexicana.

PS: O choque do segundo avião contra uma das torres ainda me gela o sangue. Acho até que se nada disso realmente tivesse acontecido a história do filme seria muito difícil de acreditar...

sábado, novembro 04, 2006

Comprei numa oferta sanjuanina o meu primeiro livro do J.G. Ballard (aquele que durante a infância na II Guerra Mundial foi enclausurado num campo de concentração japonês junto com sua família, experiência relatada no livro ¨O Império do Sol¨, que virou filme nas mãos do Spielberg, sabe?).

¨Guía del usuario para el nuevo milenio¨ é uma compilação de textos e ensaios escritos pelo autor. Os assuntos são dos mais variados: desde as memórias do autor a William Burroughs, Warhol, Einstein, Hirohito, cinema, Nancy Reagan, Elvis Presley, Deng Xiaoping, Dalí, tv, carros, ameaça nuclear, ficção científica entre outros.

Deu vontade de ler outras coisas do autor.

quinta-feira, novembro 02, 2006

"Se derraman más lágrimas por plegarias atendidas que por las no atendidas"
(Santa Teresa)

Li ¨Plegarias Atendidas¨ do Truman Capote. Livro que segundo o autor deveria ser uma variante do romance ¨real¨. Pra isso ele passou anos revisando e reescrevendo suas cartas e de outras pessoas, seus diários e cadernos de notas dos anos 1943 a 1965.

O livro, começou a ser escrito antes da publicação de ¨A Sangue Frio¨, em 1966 e a data de entrega, que seria janeiro de 1968 foi mudada várias vezes e finalmente apareceu inacabada numa edição póstuma em 1987.

Capote publicou 4 capítulos na revista Esquire: "Mojave" (que depois foi parar em ¨Música para camaleões¨), ¨A Côte Basque¨, que foi um escândalo porque a maioria dos amigos de Capote se distanciaram do escritor, indignados com as histórias narradas sobre eles mesmos quase sem disfarce ou piedade. Depois foi publicado "Monstros Perfeitos" e "Kate McCloud". Dizem que Capote ficou passado com a reação dos amigos e que por isso parou de trabalhar no livro.

P.B. Jones, o narrador protagonista do romance, é um escritor "maldito" que tem um livro publicado sem o menor sucesso (chamado justamente ¨Plegarias Atendidas¨), e que não perde a oportunidade de falar de si. Bissexual, garoto de programa, ele conta como conseguiu escapar de um orfanato aos 13 anos e de como aprendeu o ofício de massajista e suas relações com o jet set sem deixar de comentar com malícia a vida sexual dos outros.

Capote sarcástico como nunca...
 


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